Domain Model vs Persistence Model

O que é um modelo de persistência (persistence model)?

Quando utilizamos algum tipo de ORM como o Entity Framework e Hibernate precisamos mapear as tabelas do banco de dados para as classes da aplicação. Essas classes são os nossos “modelos de persistência”. Antigamente era algo mais ou menos assim:

public class Livro 
{ 
    [Key] 
    public int Isbn { get; set; }
    [Required]      
    [MaxLength(10)]
    public string Nome { get; set; }  
    public DateTime DataPublicacao { get; set; }
}

Com a evolução dos ORM’s passou a ser possível fazer essas configurações sem a necessidade do uso de data annotations. Isso é possível devido aos arquivos de mappings (normalmente configurados de maneira fluent). Assim conseguimos criar essas classes de persistência de maneira POCO (Plain Old CLR Object), o que é muito mais bonito:

public class Livro 
{ 
    public int Isbn { get; set; }    
    public string Nome { get; set; }
    public DateTime DataPublicacao { get; set; }  
}

Acontece que, com essa possibilidade, acabou virando muito comum usarmos essas classes no domínio das aplicações. Dessa maneira a mesma classe que é utilizada para modelar a persistência é utilizada também para modelar o domínio.

Mas o que é um modelo de domínio (domain model)?

São as classes que representam o “negócio” da sua aplicação. Elas expressam não só dados mas também (e principalmente) comportamentos:

public class Livro 
{ 
    public int Isbn { get; private set; }    
    public string Nome { get; private set; }
    public DateTime DataPublicacao { get; private set; }
    public Usuario Revisor { get; private set; }

    public void Publicar(Usuario revisor)
    {
        if (revisor == null)
            throw new ArgumentException("É obrigatório ter um revisor para publicar!");
        
        this.DataPublicacao = DateTime.Now;        
        this.Revisor = revisor;
    }

    ...
}

Domain model, na definição do DDD, é na verdade um conceito mais amplo do que isso. Um domain model pode ser representado de outras maneiras além do código, afinal, como o nome já diz é apenas um modelo. Um modelo da solução de um determinado problema. O objetivo de um modelo é representar algo. Orientação a objetos é uma maneira de representar algo, portanto, é uma peça do modelo.

Mesclar ou não mesclar, eis a questão!

Como dito anteriormente, configurar o ORM sobre as classes de domínio se tornou algo muito comum e intuitivo. Inclusive muitos, se não a maioria, dos exemplos que se vê na internet de projetos em DDD são construídos dessa forma.

Ou seja, você pega aquela classe “Livro” do exemplo anterior (domain model) e mapeia ela em seu ORM. De fato ela tem métodos que ele não vai utilizar (já que para o ORM só interessam as propriedades) mas isso não vai gerar nenhum problema. Nem mesmo os campos com private set, pois os ORMs atribuem os valores das propriedades por reflection.

Então a conclusão é:

Podemos sim utilizar a mesma classe para representar o modelo de domínio e também mapeá-la no ORM. Dois pelo preço de um!

Porém, cuidado, isso é uma decisão que deve ser tomada com muita prudência pois pode trazer problemas a longo prazo.

Respondi sobre isso nessa questão do stackoverflow e pretendo reproduzir aqui os prós e contras de cada um desses approachs.

Persistence e Domain model numa classe só

Se você está construindo uma aplicação nova na qual se tem o conhecimento que o domínio dificilmente será modificado e, além disso, se o banco de dados está sendo construído com o único propósito de atender a essa aplicação: provavelmente essa seja a maneira mais prática a se seguir. Entretanto quando maior seja a ambição de vida longa do projeto (em matéria de manutenções e continuidade de desenvolvimento) maior o risco dessa abordagem.

Vantagens:

  • Velocidade extremamente rápida no desenvolvimento

Desvantagens:

  • Os desenvolvedores tendem a ser mais receosos com refatorações e mudanças estruturais no domínio, pois elas afetam diretamente os mapeamentos do ORM. Esse medo não é bom para o domíno.
  • Se o domínio começar a divergir muito do banco de dados certamente surgirão dificuldades para mantê-lo em harmonia com o ORM. Aquela produtividade ganha no início do desenvolvimento começa a se degradar e atingir a ponta da parábola. Quanto mais próximo do domínio mais difícil fica de configurar o ORM. Quanto mais próximo do ORM pior fica o domínio.

Persistence e Domain model como duas classes separadas

Essa abordagem traz a principal vantagem de modelar o domínio com liberdade e sem medo de refactorings. Ela está livre de limitações provenientes do ORM ou qualquer outro aspecto de persistência dos dados. Ou seja, não importa se o banco de dados é relacional, orientado a documentos, grafos, ou se você salva tudo num arquivo de texto, nada disso afetará a maneira como você modela seu domínio.

Portanto, eu tendo a sugerir essa separação para projetos que utilizam base dados legadas e, principalemente, para projetos que ambicionam vida longa.

Vantagens:

  • Maior liberade para modelar o domínio.
  • Banco de dados é tecnologia. Tecnologia muda com muito mais frequencia do que o negócio. Dessa maneira ganhamos liberdade não só no domínio mas também no repositório, pois os detalhes de persistência podem mudar drasticamente sem afetar o domínio.
  • Maior facilidade para implementar outros conceitos importantes do DDD como o Bounded Context.

Desvantagens:

  • Necessidade de um esforço maior nas conversões de dados (mapeamentos) entre as camadas de repositório e domínio. O que resulta em um desenvolvimento um pouco mais trabalhoso e também numa pequena perda (provavelmente desconsiderável) de velocidade em runtime devido a uma conversão extra.
  • Dessa maneira, no final das contas, acabamos perdendo diversos benefícios de utilizar um ORM (tracking changes, por exemplo).

Enfim, essa é a visão que tenho e na qual sempre pondero no momento de conceber a arquitetura das minhas aplicações. Sinta-se à vontade para opinar nos comentários.

https://vaughnvernon.co/?p=879

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